Deixe que ele respire, como uma coisa viva.
E tenha muito cuidado, ele pode quebrar.
Como um bebê ou um cristal: tome-o nas mãos com muito cuidado.
Ele pode quebrar, o momento presente.
Escolha um fundo musical adequado (...)
Como um bebê, então, a quem se troca as fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado também.
Olhe devagar para ele, parado no canto do quarto ou esquecido sobre a mesa, entre legumes, ou misturado às folhas abertas de algum jornal.
Contemple o momento presente como um parente, um amigo antigo, tão familiar que não há risco algum nessa presença quieta, ali no canto do quarto.
Como a uma laranja, redonda, dourada — mas sem fome, contemple o momento presente.
(...) E tenha muito cuidado: ele pode quebrar.
Desligue a música, agora. Seja qual for, desligue.
Contemple o momento presente dentro do silêncio mais absoluto. (...)
Mas não sinta solidão, não sinta nada: você só tem olhos que olham o momento presente, esteja ele — ou você — onde estiver.
E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar. Não há memória, também. Você nunca o viu antes. (...)
Só está ali, à sua frente, como um punhado de argila à espera de que você o tome nas mãos para dar-lhe uma forma qualquer — um bebê, um cristal, um diamante e assim por diante.
E se você não o fizer, ele se fará por si mesmo, o momento presente.
Não chore sobre ele.
No máximo um suspiro.
Mas que seja discreto, baixinho, quase inaudível.
Não o agarre com voracidade — cuidado, ele pode quebrar.
Não ria dele, por mais ridículo que pareça.
Fique todo concentrado nessa falta absoluta de emoção.
Não espere nada dele, nenhuma alegria, nenhum incêndio no coração.
Ele nada lhe dará, o momento presente.
Deixe que ele respire, como uma coisa viva.
Respire você também, como essa coisa viva que você é. (...)
Se o telefone tocar, atenda.
Se a campainha chamar, abra a porta.
Quando estiver desocupado outra vez, procure-o novamente com os olhos.
Ele já não estará lá. Haverá outro em seu lugar.
E então, como a um bebê ou a um cristal, tome-o nas mãos com muito cuidado.
Ele pode quebrar, o momento presente...
[Caio Fernando Abreu - Ao momento Presente - In Pequenas Epifanias]
10 comentários:
Suas fotografias são lindas!!!!
Se destacam ainda mais acompanhadas pelo texto do Caio Fernando Abreu...
Tenha um lindo dia!! Beijosss
oi Dé,
o momento presente é o mais precioso,
ele é o real,
o que temos,
o que devemos agradecer,
amar e viver...
Caio é maravilhoso...
beijinhos
Com foto dessas, o texto é só um algo mais,
Lindo demais Dé,
Bjkas
O presente é o presente.
Abraço
O presente já vem com um nome que lhe define!
Lindo este texto!Caio é incrível!
Amei suas palavaras em meu blog minha linda!
Tu me entende, e isso é tão bom.Quando fiz meu blog não imaginava que fosse encontrar pessoas tão maravilhosas por aqui!Você é uma delas!
Obrigada por preencher meus dias com lindos textos, que de uma forma ou de outra, anestesiam ou adoçam aquilo que há alguns dias tem sido um tanto pesado por aqui!
Você é um anjo!
Te adoro Dézinha!
Beijão!
tudo lindo, a imagem, o escrito, o instante!
e o hoje é agora .
Beijos - texto lindo !
Oi...
Passeando pela blogosfera encontrei o essencial é invisivel aos olhos...Adorei!!! Muito lindo o texto de Caio Fernando Abreu...Parabéns!!!
Beijos!
San...
Caio é de mais .me toca tanto..bj querida..boa noite.
Dé,
Pequenas epifanias foi o primeiro livro do Caio que li.
Foi através desse livro há alguns anos atrás que conheci Caio, e foi onde amei e vou amá-lo eternamente.
PS: SUAS FOTOS ESTÃO LINDAS!!!
Essa, me deu uma paz imensa!
Te amooooooo!
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